No Marajó, IEB inicia FORMAR Restauração e Gestão

Focada em agricultoras, agricultores e extrativistas, a formação continuada pretende estimular a recomposição de agroecossistemas no território

Em um bioma pressionado por desmatamento e queimadas, fortalecer comunidades e povos tradicionais se torna imperativo para a manutenção da vida e defesa do território. Com esse objetivo em mente, o Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) engajou cerca de 30 pessoas no primeiro círculo do FORMAR Restauração e Gestão, realizado nos dias 23 e 24 de novembro em Portel, no Marajó (Pará).

A iniciativa integra o Marajó Socioambiental 2030, projeto que visa a promoção da restauração florestal em seis municípios do arquipélago: Breves, São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Portel, Muaná e Curralinho. 

Dividida em seis círculos de saberes, a formação tem carga horária de 160 horas e abordará temas como sistemas produtivos sustentáveis; produção de mudas; recuperação de áreas degradadas; práticas agroecológicas; introdução de Área de Coleta de Sementes (ACs); organização e inclusão socioprodutiva para produtos da sociobiodiversidade. A coordenação é do IEB, com parcerias locais como o Instituto Federal do Pará (IFPA).

Nesse círculo apresentamos o projeto Marajó Socioambiental 2030, o plano do curso e fizemos uma introdução ao conteúdo de forma geral, explicando o conceito e os tipos de Sistemas Agroflorestais (SAF’s), um termo complexo que se relaciona muito com o que eles conhecem e fazem há muito tempo, que são os quintais agroflorestais”, afirma Deborah Pires, engenheira agrônoma e analista socioambiental do IEB. 

Os SAF’s se apresentam como um contraponto à monocultura, que tem baixa diversidade de produtos, o que acaba esgotando os nutrientes do solo e incentivando a proliferação de pragas e doenças. Esse primeiro momento serviu para ligar o conceito à realidade deles, utilizando um conhecimento empírico já instalado”, complementa Deborah.

Cursistas no primeiro círculo de saberes do FORMAR Restauração e Gestão, em Portel, no Marajó

Além de ser utilizado como uma estratégia de recomposição de agroecossistemas, a implantação de SAF’s pode contribuir para a segurança alimentar dos moradores da região. “O nosso município vem sendo muito atingido com o desmatamento. O IEB tem uma visão importante em cima dessa situação gravíssima e vem trabalhando com a questão, assim como a escola Saberes da Terra, da qual faço parte. Hoje a população está muito na mesmice de trabalhar com a monocultura da mandioca ou com extrativismo de madeira. Com a diversificação do plantio, a gente pode ter uma alimentação mais saudável”, afirma Renato Braga, um dos cursistas e professor da Saberes da Terra. 

Também cursista e um dos responsáveis pelo viveiro comunitário de Vila Aparecida, no Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista (PEAEX) Acutipereira, Francisco Tenório reforça essa visão. “A gente está numa esperança de que possa haver uma mudança pra nós, as pessoas estão interessadas no projeto e em fazer plantação. Na reunião a gente sempre conversa tanto que só quer plantar maniva, só maniva, e esquece dos outros produtos que podem estar nos alimentando mais primeiro de que (sic) a mandioca”, conta.

Estratégia

Os SAF’s funcionam como um eixo integrador na estratégia de fortalecimento da inclusão socioprodutiva. “As mudas estão sendo produzidas pelas famílias do território por meio de mutirões. Além de participarem de todo o ciclo – coleta de semente, cultivo da muda e plantio em seus terrenos – as famílias receberão dois reais por muda como forma de valorizar a mão de obra deles. Esse preço é simbólico, já que os demais insumos como sacos de muda, adubo, irrigação e infraestrutura do viveiro foram custeados pelo projeto”, informa Marcos Silva, analista socioambiental do IEB e um dos responsáveis pela implementação do projeto. 

Na semana a gente tirou um dia para trabalhar no viveiro, todo dia de segunda-feira. Muitos dias a gente trabalhou das 8h às 12h, aí teve momentos que a gente trazia os alimentos. Quando a gente não trazia o alimento para reunir em grupo, a gente terminava 12h, almoçava, e voltava das 14h até 16h”, conta a cursista Clene Alves, da comunidade Menino Deus, no PEAEX Acangatá.

Feira de Ciências

O FORMAR Restauração e Gestão também promoveu uma atividade de integração com a 5ª edição da Feira de Ciências do rio Acutipereira, realizado sob o tema “Serviços ecossistêmicos: desafios e oportunidades para os povos da floresta”, entre os dias 24 e 26, na comunidade São Benedito.

 

O FORMAR Restauração e Gestão também promoveu uma atividade de integração com a 5ª edição da Feira de Ciências do rio Acutipereira.

O IEB apresentou as ações do projeto Marajó Socioambiental 2030, com foco em serviços ecossistêmicos e fortalecimento organizacional, tanto de atividades de viveiro, como o fomento à agricultura por meio dos SAF’s.  O Instituto também auxiliou uma turma de alunos da escola na construção de uma maquete sobre SAF’s. 

 

Os educandos do FORMAR participaram de atividades e cursos ofertados na feira, iniciativa promovida pelas comunidades agroextrativistas do PEAEX Acutipereira e coordenada pela Associação do Moradores do PEAEx Acutipereira (Asmoga) e Sindicato de Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais de Portel (STTR).

Marcaram presença no evento instituições com a Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), o Instituto Federal do Pará (IFPA) – Campus Breves, a Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará), a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater-Portel e Melgaço) e prefeituras municipais da região.

Marajó Socioambiental 2030

Dividido em quatro eixos centrais, o projeto pretende estimular a restauração florestal e promover o fortalecimento de comunidades no arquipélago do Marajó, com foco nos municípios de incidência do projeto: Breves, São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Portel, Muaná e Curralinho. 

Previsto para ser implementado até 2024, uma das metas do projeto é plantar 500 mil mudas de espécies agroflorestais, produzidas a partir de viveiros comunitários e particulares instalados em Portel e Breves.

O FORMAR Restauração e Gestão será concentrado em Portel e Breves, municípios que abrigam viveiros de mudas do projeto. O próximo encontro formativo será no mês de dezembro, com outros cinco encontros previstos até maio de 2023. A equipe promoverá a integração dos demais municípios por meio de atividades de intercâmbio e outras atividades que promovam a socialização dos conhecimentos. 

O projeto é implementado pelo IEB, com a parceria da Awí Superfoods e do Instituto 5 Elementos, e com o apoio do Fundo Socioambiental (FSA) da Caixa Econômica Federal.