Em Breves (PA), formação com agroextrativistas aborda manejo de sementes para produção florestal e agrícola

Ação faz parte do curso Formar Restauração e Gestão, que já realizou seu terceiro círculo formativo na região do Marajó

Entre os dias 4 e 6 de maio, ocorreu o terceiro círculo do curso “Formar Restauração e Gestão”, com participação de 30 jovens e adultos moradores de Projetos Estaduais de Assentamentos Agroextrativistas (Peaex) e de Reservas Extrativistas (Resex) dos municípios de Portel e Breves, no arquipélago do Marajó, no Pará.

As atividades foram realizadas na Eco-Fazenda Escola Patú Anú, da Awí Superfoods, no município de Breves (PA). O curso faz parte das ações do projeto Marajó Socioambiental 2030, realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com apoio do Fundo Socioambiental da Caixa, além de contar com parceria da Fundação Banco do Brasil, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundo Amazônia.

Dessa vez, como tema da formação, foram discutidas as práticas de coleta e manejo de sementes para produção de mudas florestais e agrícolas, visando à restauração florestal e incidência socioprodutiva no território marajoara. A professora Dra. Roberta Coelho e o professor Dr. Romier Sousa, consultores do projeto, conduziram o círculo formativo, com coordenação e apoio da equipe técnica do IEB.

Profª. Dra. Roberta Coelho com a turma do Formar Restauração e Gestão no terceiro módulo formativo. Foto: Acervo IEB

A formação contou ainda com a participação dos servidores Mateus Marques e Ronária Vieira, do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), responsáveis pela unidade do órgão no município de Gurupá, no Marajó.

Conteúdo – O primeiro momento da formação foi dedicado a socialização das atividades realizadas no “tempo-comunidade”, período em que os educandos implementam na prática os conhecimentos desenvolvidos no círculo formativo anterior, seguindo a metodologia freiriana da pedagogia da alternância, que considera que o conhecimento se constrói em espaços formais de educação e também na realidade cotidiana vivida na comunidade, na família, etc. Neste último período, as atividades desenvolvidas estavam relacionadas à construção de sistemas de compostagens visando a produção de insumos para aplicação de mudas que deverão formar Sistemas Agroflorestais (SAFs).

Em seguida, a turma explorou o tema das sementes, dialogando sobre seus diferentes tipos e variedades, formas de coleta, características, formas de dispersão, além de trabalhar o planejamento e aplicação de técnicas para coletas, armazenamento, beneficiamento, germinação e a produção de mudas.

“Está sendo uma experiência muito boa, porque vem professores ensinar algumas técnicas que a gente não tem experiência nas nossas comunidades e também aprendem com as nossas práticas. Agora, a cada formação, a gente tá vindo com um olhar diferente, com ideias e conhecimentos diferentes. A gente coloca em prática e vê que realmente funciona. Eu também trabalho com biojoias e essa última formação me chamou muita atenção pelas técnicas de manejo das sementes”, explica Silmara dos Santos, uma das educandas do Formar e agroextrativista da comunidade São Sebastião Merituba, no PEAEX Acangatá, no município de Portel (PA).

Silmara dos Santos trabalhando no sistema agroflorestal. Foto: Arquivo pessoal.

Os educandos puderam ainda conhecer as experiências produtivas da eco-fazenda, como os viveiros que produzem mudas para o projeto Marajó Socioambiental 2030 e os SAFs implantados há 5 anos e que já estão em pleno processo produtivo. Na ocasião, os professores dialogaram ainda sobre os diferentes arranjos de plantio, espaçamentos e a combinação das diferentes espécies florestais e agrícolas que são determinantes para o sucesso do SAF. Realizaram ainda uma demonstração de podas e sua importância para o desenvolvimento das espécies florestais e agrícolas.

Turma do Formar Restauração e Gestão no SAF da Eco-Fazenda Escola Patú Anú. Foto: Acervo IEB

Também educanda do curso, a agroextrativista Elizandra Machado, do PEAEX Acangatá, ressalta a importância de adquirir conhecimentos que podem ser compartilhados e aplicados nas comunidades. “Hoje a gente já tem interesse em plantar mais focando em produzir alimentos e restaurar áreas degradadas, por isso a gente tem interesse em trabalhar com os sistemas agroflorestais. Na minha comunidade, a gente já tem trabalha com o SAF, mas ainda não está na fase produtiva e a experiência de visitar a produção do SAF na eco-fazenda foi muito boa pra nos dar mais ideias e a gente quer multiplicar o conhecimento adquirido”, comenta.

Elizandra Machado no trabalho de restauração de área degrada. Foto: Arquivo pessoal.

Próximos passos – Como resultado da formação, além dos novos conhecimentos adquiridos por todos os participantes através de novas descobertas e experiências socializadas, cada educando ficou com uma tarefa a ser desenvolvida na sua comunidade, como continuidade das ações desse terceiro círculo formativo.

A tarefa orientada aos educandos é identificar as principais espécies florestais das suas comunidades, descrevendo quais os tipos de sementes, período da florada e da frutificação e o tipo de dispersão. Além disso, os educandos do Formar Restauração e Gestão devem conversar com os mais idosos e identificar quais outras espécies florestais já existiram e não existem mais na região. “Com esse exercício espera-se, no próximo encontro, consolidar uma base de dados contendo as principais informações das espécies florestais e agrícolas presente na região dos educandos”, explica o analista socioambiental do IEB Marcos Silva.

O próximo e último círculo formativo do Formar Restauração e Gestão, previsto para ser realizado em junho, terá como tema “Organização e inclusão socioprodutiva para produtos da sociobiodiversidade”.

Marajó Socioambiental 2030 – O projeto estimula a restauração florestal e busca promover o fortalecimento de comunidades nos municípios de Breves, São Sebastião da Boa Vista, Melgaço, Portel, Muaná e Curralinho.

Até 2024, o projeto deve concluir a plantação de 500 mil mudas de espécies agroflorestais, produzidas a partir de viveiros comunitários e particulares instalados em Portel e Breves. Além disso, o projeto também realiza ações educativas por meio do Formar Restauração e Gestão.