Extrativistas, agricultoras e agricultores familiares concluem formação em gênero e gestão de empreendimentos comunitários

Formação promoveu intercâmbio entre comunidades de Portel, Breves e Porto de Moz (PA).

Fortalecer empreendimentos rurais, especialmente os liderados por mulheres. Este foi o objetivo do “Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos Comunitários”, realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), entre setembro de 2023 e novembro de 2024, no município de Portel, no arquipélago do Marajó (PA).

Dividida em quatro círculos, a formação envolveu a participação de três associações, quatro cooperativas e um grupo informal. Foram abordados temas como gênero, governança territorial; práticas de manejo e conservação da biodiversidade; práticas de produção e negócios sustentáveis; empreendedorismo, gestão financeira e comercialização.
A iniciativa integra dois projetos implementados pelo IEB, o “Sanear Marajó”, que conta com a parceria do Fundo Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil; e o “Marajó Socioambiental 2030”, apoiado financeiramente pelo Fundo Socioambiental da CAIXA.

“A abordagem territorial do IEB no Marajó é voltada exclusivamente para o fortalecimento das organizações locais e sua atuação enquanto protagonistas no território”, explica Katiuscia Miranda, coordenadora institucional do IEB.

Exercício em grupo para modelagem de negócio, realizado durante último círculo do Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos, em Portel (PA)

De uma comunidade situada à beira da PA-159, em Breves (PA), e representante da Cooperativa da Agricultura Familiar Agroextrativista Regional (Cafar), Edineide Barbosa conta como a cooperativa se desenvolveu ao longo do processo formativo.

 “A Cafar estava no início do processo da documentação para poder participar do PNAE [Programa Nacional de Alimentação Escolar]. Foi quando duas amigas nossas vieram participar do primeiro círculo. Era um período que a gente tava muito necessitado, porque a gente precisava ter esse conhecimento. E hoje a cooperativa está bem, a gente conseguiu atingir o nosso objetivo que é entregar alimentação escolar e conseguiu participar do PAA [Programa de Aquisição de Alimentos]”, relembra Edineide.

Segundo a agricultora, cerca de 70 famílias estão participando do PAA e PNAE, com perspectiva de entregar mais, a partir do acesso a tecnologias sociais que estão sendo implementados a partir de projetos do IEB na região.

“A gente se sente realizado porque a gente conseguiu ganhar a cozinha coletiva para beneficiar os nossos produtos, que é uma necessidade, porque a gente perdeu várias chamadas porque precisa desses produtos já preparados para serem entregues nas escolas”, conta Edineide.

A cozinha a que a agricultora familiar se refere integra o projeto Sanear Marajó. Ao todo, quatro cozinhas agroextrativistas serão implementadas no Marajó. O projeto também envolve a implementação de Quintais Produtivos e da Tecnologia Sanear, onde cada família recebe um banheiro com sanitário, chuveiro, pia e fossa biodigestora, um sistema de captação da água da chuva e um conjunto de pia com filtros

Analista socioambiental do IEB e coordenadora do Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos, Waldileia Rendeiro conta que a “a formação permitiu que esses grupos, essas mulheres de várias comunidades, pudessem intercambiar, trocar conhecimentos, trocar receitas e aprimorar o que elas já fazem. Porque daqui a pouco com as cozinhas instaladas elas estarão mais fortalecidas para venda de seus produtos, seja para o PAA, PNAE e para outros tipos de mercado”, enfatiza.

Waldileia Rendeiro (centro), durante exercício de grupo realizado no último círculo do Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos Comunitários

Do Projeto Estadual de Assentamento Agroextrativista (Peaex) Acangatá, Robson Machado já participou de outras edições do “Formar” realizados pelo IEB no território.

“Esse ‘Formar’ nos ajudou a ter uma visão de organização das associações e cooperativas com relação ao escoamento da produção das cozinhas comunitárias extrativistas, de grupo de mulheres, dos planos de manejo florestal comunitário e familiar, entre outras atividades envolvidas dentro das comunidades”, analisa Robson.

Formação envolve a participação de associações e cooperativas de Breves, Portel e Porto de Moz

“Ajudou a saber como que faz para deixar esse produto até na escola, o caminho percorrido, o tempo. Às vezes são coisas que parecem simples, mas a gente não toma de conta. As outras formações que participei [pelo IEB] ensinavam mais a parte da floresta, dos Sistemas Agroflorestais (SAFs), da questão de como produzir na comunidade. Esse aqui nos ensinou a organizar e escoar essa produção”, avalia Robson.

Texto: Juliane Frazão/IEB
Fotos: Carolynne Matos/IEB
Vídeo: Caroline Torres/IEB