04 mar Workshop discute estratégia para a cadeia produtiva de sementes no estado do Pará
O evento foi realizado pelo Ideflor-Bio, com apoio do IEB, por meio de projeto financiado pelo Fundo da Amazônia Oriental (FAO)
No dia 27 de fevereiro, representantes do governo do Pará, da academia, da sociedade civil e de comunidades tradicionais se reuniram em um workshop, realizado de maneira híbrida a partir de Belém, para dialogar sobre a estratégia de rede de sementes no território paraense.
O encontro foi promovido pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade (Ideflor-Bio), com o objetivo de coletar subsídios para qualificar a estratégia que vem sendo construída pelo governo do Pará.
A ação se insere no projeto “Semeando Vida: Rede de sementes, estratégia de organização e gestão para apoio à cadeia da restauração em florestas públicas do Estado do Pará” realizado pelo Ideflor-Bio, com o apoio do Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), e financiamento do Fundo da Amazônia Oriental (FAO), por meio do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).
Na abertura do workshop, o presidente do Ideflor-Bio, Nilson Pinto, destacou a necessidade da organização adequada da cadeia produtiva de sementes. “O governador [do Pará] tem dito que precisamos virar a chave, mudar a ênfase histórica do desmatamento. Isso não se faz sozinho, se faz com organização, com participação coletiva e com uma bela engenharia. E é isso que estamos fazendo aqui. Como montar esse sistema que vai fazer com que o Pará possa trabalhar na restauração da sua floresta, é preciso um trabalho fantástico de organização e coleta de sementes”, afirmou Nilson.
Nilson Pinto destacou ainda a importância da escuta de diferentes atores na construção de uma estratégia aderente à realidade do Estado. “É preciso chamar a todos os que têm condições de participar, de contribuir, para que se possa definir exatamente os problemas, as potencialidades, encontrar os caminhos. Não é um trabalho a ser feito a curtíssimo prazo, é uma soma de contribuições e esse workshop tem exatamente essa finalidade. Foi muito bom já ouvir aqui as ansiedades, as críticas, as cobranças e as proposições. Com certeza, este é um trabalho de construção necessário, porque esta é uma causa absolutamente fundamental para o Pará, para o Brasil e para o mundo”, pontuou o presidente do Ideflor-Bio.
Gerente de Projetos do Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), Andréia Mello destacou que a vinda da Conferências das Partes sobre Mudanças Climáticas (COP-30), ao Pará, está trazendo luz para os grandes desafios que o estado enfrenta.
“Um dos desafios é a implementação do Plano Estadual Amazônia Agora, que tem uma série de linhas que visam enfrentar o desmatamento e as mudanças climáticas, dentro das características da região de Amazônia e Cerrado que o estado possui dentro da grandiosidade o tamanho dele. Quando a gente olha então para os desafios de restauração, por exemplo, criar uma rede de sementes é fundamental pra gente ter as bases das discussões para implementação da restauração, e não só comprar de fora as sementes ou de organizações muito mais estruturadas, mas olhar para quem tá aqui no território fazendo a diferença. E é por isso que o Funbio tá dentro desse apoio junto com Fundo Amazônia Oriental, que é por meio deles que a gente tá aqui no território”, enfatizou Andréia.
O arcabouço de políticas públicas ligadas à estratégia da rede de sementes no Pará foi apresentado por Ivan Ribeiro, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) e Cintia Soares, do Ideflor-Bio. A servidora também apresentou a estratégia de sementes formulada pelo órgão e os principais resultados esperados.
Representando o IEB, a analista socioambiental Deborah Pires e o advogado Ramon Santos fizeram apresentações sobre oportunidades e gargalos na legislação nacional e estadual sobre coleta, beneficiamento e comercialização de sementes no Pará.
Deborah frisou que uma das grandes problemáticas da restauração de áreas degradadas são as sementes. Neste sentido, o workshop serviu para mapear instituições que podem contribuir com o projeto.
“Hoje recebemos aqui pesquisadores de instituições de pesquisa, ensino e tecnologia, lideranças de base comunitária e, também, representantes do Governo do Estado. Todos já executam políticas públicas e, por isso, o encontro serviu para entender de que forma a rede pode unir tanto o conhecimento técnico científico, quanto às ações do Estado. Além disso, a programação buscou ouvir as necessidades e de que forma as lideranças das comunidades enxergam a cadeia da restauração e de coleta de sementes dentro dos seus territórios”, detalhou Deborah.
Noemi Vianna Leão, pesquisadora do Laboratório de Análise de Sementes Florestais (Lasf) da Embrapa Amazônia Oriental; Seidel dos Santos, da Universidade do Estado do Pará (Uepa); e Everton Almeida, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), trouxeram experiências conduzidas em suas instituições.
Considerada uma das referências da área, Noemi destacou as experiências acumuladas pelo Lasf/Embrapa, desde 1979. A pesquisadora fez uma síntese sobre diferentes experiências em áreas de coletas de sementes, destacando os pontos de atenção na fenologia reprodutiva e como o conhecimento científico pode contribuir para a formulação de programas adequados às coletas de sementes de diferentes espécies.
Em outra mesa, o workshop também destacou demais iniciativas em curso no Pará, reunindo Amanda Quaresma, da Aliança para a Restauração; Edivan Carvalho, do Ipam, que apresentou a rede de sementes do Tapajós; Robson Machado, do Peaex Acangatá, em Portel, que compartilhou a experiência do projeto Marajó Socioambiental 2030; e Maria Creusa Ribeiro, da Reserva Extrativista (Resex) Verde para Sempre, que falou sobre o projeto Floresta Viva e a rede de sementes na Resex.
“Com esse debate que teve hoje, sobre a questão das sementes, é necessário que haja uma política mais bem discutida junto com as comunidades para ver de que forma a gente vai estar mantendo isso dentro das comunidades, fazendo essa questão da coleta. O evento foi muito importante para a troca de experiência”, frisou Robson Machado.
Maria Creusa falou sobre a importância dos conhecimentos tradicionais. A agroextrativista compartilhou memórias de como os seus avós manejavam a floresta, antes mesmo do ato de criação da Resex por parte do governo federal. “Eu me criei vendo o meu avô plantar, ele tinha uma preocupação muito grande, tinha um local onde ele fazia a plantação das espécies de maniva, ele mesmo fazia a seleção e a minha avó cuidava do armazenamento das sementes. Pra mim aquilo era um viveiro, de acordo com a forma da realidade daquela região. Ele não tinha um laboratório, mas tinha um conhecimento”, contou Maria Creusa.
Sobre o projeto Floresta Viva, Maria Creusa afirmou que o objetivo é fazer a restauração, de uma forma que a soberania alimentar também possa ser garantida. “O projeto vai envolver 60% das mulheres agroextrativistas da Resex Verde para Sempre, isso porque as mulheres têm um olhar que vai além, se preocupam com os filhos e com a família. Vamos trabalhar com as mulheres para que elas possam aparecer no mapa, já que grande parte do trabalho feito [por elas] na floresta não têm visibilidade. Quando a gente adoece, a gente vai pro nosso quintal produtivo, no interior chamado de terreiro, para poder pegar as plantas medicinais, nesse mesmo quintal a gente tem pé de maracujá, quer ter pé de uxi, que está cada vez mais difícil de encontrar na mata. A gente quer que a família que esteja manejando aquela área se preocupe primeiro com o seu bem estar, e depois forneça seus produtos para os colegas consumidores”, cravou Creusa.