29 set No Marajó, projetos iniciam curso de formação de lideranças agroextrativistas
Primeiro círculo promoveu o intercâmbio entre agroextrativistas de Portel, Breves, Porto de Moz e Anapu (PA)
“Fortalecimento de parcerias e a busca pela garantia de acesso às políticas públicas e ao desenvolvimento rural sustentável”, assim Gracionice Corrêa, moradora e uma das lideranças do Assentamento Coletivo Deus é Fiel, no município de Portel (PA), definiu o primeiro círculo do Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos Comunitários, curso promovido pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB) no período de 22 a 24 de setembro, em Portel.
A iniciativa reuniu 45 lideranças agroextrativistas — 36 mulheres e 9 homens —, representantes de associações ou cooperativas dos municípios paraenses de Portel, Breves, Porto de Moz e Anapu. A formação integra as agendas dos projetos “Sanear Marajó”, que conta com a parceria do Fundo Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil; e “Marajó Socioambiental 2030”, apoiado financeiramente pelo Fundo Socioambiental da CAIXA.
Com uma carga horária total de 128 horas, o curso aborda temas como governança territorial; práticas de manejo e conservação da biodiversidade; boas práticas de produção, manipulação de alimentos e negócios sustentáveis; e fortalecimento do empreendedorismo.
O primeiro círculo promoveu reflexões sobre gênero, território e Desenvolvimento Organizacional (DO). “Falamos sobre o início do processo de gestão, trazendo ferramentas importantes para que eles possam fazer um diagnóstico da associação ou cooperativa da qual fazem parte. Com esse retrato, eles vão poder fazer um plano de ação orientado à resolução de alguns gargalos que podem estar emperrando o processo de crescimento da organização”, conta Marcelo Alves, analista socioambiental do IEB e um dos facilitadores do círculo.
“Também apresentamos ferramentas para um diagnóstico do território, ver quais são as ameaças, quais são as fortalezas e as oportunidades que eles têm dentro do território para que eles, em conjunto com outras instituições de base comunitária, possam começar a fazer um trabalho conjunto para ir fortalecer o território, que automaticamente fortalece a comunidade, o que fortalece as instituições”, complementa Marcelo.
Presidente da recém criada Cooperativa da Agricultura Familiar Agroextrativista Regional (Cafar), situada em Breves, Luiz Silverio de Souza conta que planeja utilizar os conhecimentos adquiridos para acessar os mercados institucionais. “Ainda estamos engatinhando no processo, ainda não vendemos nada, conseguimos uma licitação para o ensino médio que devemos começar a fazer a entrega neste mês. A expectativa é que a gente melhore o nosso trabalho e que possamos crescer para atender ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)”, afirma Silverio.
Facilitadora do círculo e analista socioambiental do IEB, Waldileia Rendeiro conta que a dimensão de gênero é central na formação para qualificar as ações de inclusão socioprodutiva de mulheres no projeto.
“Neste primeiro círculo procuramos nivelar o entendimento sobre o conceito de gênero e sua importância para a análise das relações sociais, provocando os participantes a ter um olhar mais atento sobre as desigualdades entre os sujeitos a partir de suas experiências em várias dimensões da vida social, como no trabalho, dentro de casa, na família, no movimento social dentre outros, sem esquecer de articular outras formas de desigualdades, como classe e raça. A reflexão conectou com a discussão sobre a necessidade de construir relações mais igualitária e equitativas para o desenvolvimento organizacional”, explica Waldileia.
Do interior da comunidade São Sebastião, do município de Breves, a jovem Silvana Chaves, 18 anos, veio acompanhada da mãe e da irmã. “A minha mãe já participa, né? Ás vezes eu acompanho pela associação do assentamento. Eu acho que agora eu consigo entrar e ajudar a motivar. Me chamou a atenção ter muitas mulheres e ver que todas estão lutando pelo mesmo direito, que muitas nós não temos e principalmente para mudar o nosso mundo e tentar mudar alguma diferença”, pontua Silvana.
Metodologia
O Formar Gênero e Gestão de Empreendimentos Comunitários segue o princípio da Alternância Pedagógica onde os tempos e espaços de formação são alternados com o Tempo Comunidade (TC), visando à uma problematização da realidade e à reflexão a partir dos conhecimentos técnico científicos obtidos durante a realização das etapas de formação presencial.
A concepção da fundamentação teórico metodológica e dos percursos formativos é realizada de forma participativa junto com as comunidades e os demais grupos envolvidos na formação, garantindo com que as demandas por novos conhecimentos científicos sejam sensíveis às realidades locais. A formação prossegue até março de 2024.
No primeiro círculo, os temas foram trabalhados de forma didática, de modo que as(os) educandas(os) pudessem construir coletivamente o significado de território a partir das diferentes características das realidades vividas nas dimensões geográficas, modos de produção, modos de vida, aspectos culturais, religiosos dentre outras características. Foi feito um desenho do território como exercício para leitura e interpretação da realidade, sobretudo para a identificação dos problemas e potenciais do território das(os) educandas(os).
Sanear Marajó
O projeto vai implantar tecnologias sociais de saneamento, incluindo o abastecimento de água potável de qualidade, sistemas agroflorestais e cozinhas agroextrativistas, nos municípios de Breves, Portel e São Sebastião da Boa Vista, no Marajó (PA). O objetivo é fortalecer e estruturar a cadeia do açaí na região, impulsionando melhorias da qualidade de vida e dos padrões de produção e gestão de empreendimentos comunitários.
Ao todo a iniciativa prevê a implantação de 200 tecnologias sociais de módulo individual em diferentes territórios do Marajó; quatro tecnologias sociais de módulo coletivo; o plantio de 160 mil mudas de espécies nativas em quintais florestais; a estruturação de quatro postos de colheita e manipulação do açaí; e a construção de quatro cozinhas agroextrativistas.
Implementado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), o Sanear Marajó conta com a parceria do Fundo Amazônia, Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e Fundação Banco do Brasil, e apoio do Fundo Socioambiental da CAIXA.
Marajó Socioambiental 2030
O projeto Marajó Socioambiental 2030 visa promover boas práticas em uso sustentável do solo, valorização das florestas e da biodiversidade da Amazônia. As ações serão realizadas em territórios de vulnerabilidade social, econômica e ambiental no período de três anos nos municípios de Breves, Curralinho, São Sebastião da Boa Vista, Muaná, Melgaço e Portel.
O objetivo é conceber e implementar um programa de Restauração e Uso sustentável de Ecossistemas e Florestas no Território Marajoara com cooperativas agroextrativistas próximas às Reservas Extrativistas Mapuá e Terra Grande Pracuúba, lideranças locais e comunidades escolares nos municípios de incidência.
O projeto é realizado pelo Instituto Internacional de Educação do Brasil (IEB), com apoio financeiro do Fundo Socioambiental da CAIXA.